quarta-feira, 30 de maio de 2012

Combatendo o Protestantismo



Palavras chaves: inquisição, contra reforma, Santo Ofício.
Objetivos:
1- Compreender como a igreja combateu o protestantismo;
2- Analisar o surgimento da companhia de Jesus como mecanismo ideológico para  reconquista do" território" católico perdido para os protestantes;
3-Entender a atuação do Santo ofício como forma de preservar o poder papal e evitar o avanço de idéias contrárias às da Igreja.

Após combater a heresia das bruxas e manter as mulheres sob a autoridade eclesiástica, a Igreja tinha de enfrentar a força protestante, que cada vez mais ganhava território e disseminava sua nova teologia. Tudo que fosse contrário a uma fé racional era considerado diabólico, isso explicaria a intensa perseguição a magia das feiticeiras.Entretanto, o protestantismo usava de uma razão e uma fé que apoiava-se também na Bíblia sagrada. Como combater isso?

Para vencer a heresia cátara, a Igreja investiu em Teologia e pregação. A ordem Dominicana foi responsável por silenciar os albigenses, que assim como os protestantes,dedicavam-se em afastar-se dos dogmas católicos. Porém cerca de 300 anos haviam se passado e o zelo pelo estudo teológico esfriara pelo hábito do poder estabelecido pela ordem inquisidora, que acostumada a usar da força para combater as bruxas, "esqueceu" os métodos da argumentação. Os padres esperavam que de algum modo essa nova onda de heresias simplesmente passasse.

O protestantismo era assim uma astuta e disfarçada manifestação diabólica, que discordava da ortodoxia da igreja e questionava seus dogmas. Existia algo mais demoníaco do que discordar do representante de Deus na terra, o sucessor de Pedro no trono? Desse modo a Igreja Católica acabou por monopolizar o conhecimento e a cultura desta época, atribuindo a Satã toda e qualquer obra ou pensamento que se opusesse ao Papa.

[...]" se o diabo estava manifesto na orgiástica irracionalidade da bruxaria, agora torna-se do mesmo modo manifesto na eloqüência da palavra escrita[...]"(p.141-142)

Deflagrou-se, portanto, uma verdadeira guerra ideológica, que tinha Martinho Lutero como principal herege. O advento da imprensa contribuiu para o "sucesso" da filosofia luterana, que também  desencadeou uma explosão de conhecimento nunca antes visto.
O Surgimento dos "soldados de Cristo" ou sociedade de Jesus deve ser visto como uma nova medida tomada pela igreja a fim de deter a Reforma Protestante. Esta ordem foi criada pelo espanhol Inácio de Loyola, que também sofrera nas mãos dos inquisidores. Inicialmente Loyola buscava a glória militar, mas após dedicar-se ao estudo e a pregação, acabara fundando na França a ordem dos Jesuítas.

"A 27 de setembro de 1540 o papa Paulo III estabeleceu oficialmente os jesuítas sob o nome original de " companhia de Jesus"[...](p .144)

Tornaram-se a ponta de lança contra os reformadores. Do mesmo modo que ocorreu com os dominicanos, que deram inicio ao tribunal inquisitorial, a ordem Jesuíta fez ressurgir a inquisição romana. O Santo ofício inspirou-se na inquisição espanhola e não visava somente uma pureza da fé, mas sobretudo o bem estar do Papado e da igreja Católica.
Um nos principais nomes relacionados com esse ressurgimento inquisitorial romano é sem dúvida Giovanni Caraffa. Foi nomeado primeiro inquisidor Geral e em 1555 tornou-se papa , implementando um verdadeiro reino de Terror.

[...]" Quando Caraffa morreu em 1559, era tão detestado pelos romanos que eles atacaram as instalações do santo ofício, demoliram os prédios, saquearam e queimaram todos os documentos. Impávido, porém, o Santo ofício continuou seu trabalho.[...]"(p.148)

Todos podiam perceber que a Europa não era mais a mesma. O protestantismo conseguira firmar-se em seu espaço e a igreja não o estava fazendo recuar. Por isso mesmo como forma de se adaptar ao novo cenário histórico, a Igreja promove os grandes Concílios que acabaram por distanciar ainda mais o catolicismo do protestantismo. A igreja alegava que sua tradição era tão importante quanto às sagradas escrituras. Sua concepção do pecado original , a salvação das almas e a teologia luterana da justificação pela fé se opunham drasticamente. Entre outras coisas, o concílio de Trento, um dos mais importantes já feitos, estabeleceu o poder absoluto do Papa.

Uma das medidas tomadas para deter o avanço de idéias heréticas foi a censura de obras literárias, o Índex de livros. Muitos autores foram confiscados, tais quais : Martinho Lutero, Jan Hus, Giordano Bruno, Descartes, Rousseou, Voltaire. O Índex fora abolido apenas em 1966.

Depois do protestantismo, novos segmentos ideológicos surgem, como os "magos do renascimento", alvo mor dos ataques inquisitoriais. Aqueles eram mentes livres que se dedicavam ao estudo das artes, a ciência, teologia, filosofia, medicina, tecnologia e etc. Um arquétipo deste grupo é Giordano Bruno que defendia as idéias de Copérnico ( a terra se move em torno do sol). Fora torturado e condenado  pelo Santo Ofício na Itália por não renegar suas obras.

 Bibliografia:

BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard.  A inquisição.    Tradução :Marcos Santarrita; Rio de Janeiro. Imago ed 2001. 348 P.

sábado, 26 de maio de 2012

Os Agentes de Satã: a mulher


Palavras chaves :  igreja, mulher, diabo, medo, misoginia.
Objetivos :
1- Compreender as raízes da imagem feminina como perversa e causadora de todos os males no mundo;
2-  Analisar o medo dos homens pelas mulheres no ocidente ;
3- Perceber como o discurso eclesiástico permitiu e estimulou o ódio pelo sexo oposto, promovendo por fim a famosa caçada as bruxas.

Como veremos mais adiante a acusação da mulher como fonte de todo mal é algo de longa data. Na idade moderna ela é vista como um perigoso agente de Satanás, assim como o judeu. Essa percepção era compartilhada tanto por clérigos como por autoridades leigas.
Podemos afirmar que nem sempre a mulher fora vista desse modo, mas na idade da pedra e na época romântica, por exemplo, ela fora exaltada como  deusa da fertilidade, virtuosa, símbolo de sabedoria e fonte de inspiração.
Freud atribuiu o medo da mulher por parte do homem ao fato de acreditar que ela poderia castrá-lo. Karen Horney diz que este medo provém do fato de a mulher ser naturalmente misteriosa. O homem jamais entenderá a maternidade! Por isso mesmo a mulher é vista como uma grande contradição, ou seja, ela é objeto de desejo masculino, porém é também algo que gera repulsa ( a menstruação é algo exclusivo da mulheres). Do mesmo modo a mulher era a geradora da vida e de seu ventre saiam os filhos, e ao mesmo tempo a terra era considerada uma grande mãe que alimentava os homens e por fim os engoliam no ventre terreno após a morte. Não é estranho o fato de a mulher em muitas civilizações antigas ser a responsável pelos ritos de passagem  ou funerários. Pois sua imagem estava relacionada ao ciclo natural e eterno de viver e morrer)
O que reforçava a imagem da mulher como devoradora de homens era a existência de muitas deusas monstro, como Medéia, que alimentava-se de crianças; Kali, deusa hindu, talvez a maior representação da ambigüidade feminina " criadora e destruidora" ao mesmo tempo." Logo o medo da castração dita por Freud faz sentido, e ha muito tempo estava no imaginário popular. Um exemplo disso são as crenças dos nativos norte americanos e indianos.
Como vimos a mulher sempre estivera associada a fertilidade e ao ciclo da vida. Sua imagem remete ao renascimento e a necessidade de se reproduzir. Logo, o sexo ou o desejo insaciável por ele é sua principal característica. É como que se a mulher sempre estivesse faminta por sexo, por isso passou a ser comparada com o louva-a -deus, que decapita seus parceiros após a reprodução. Portanto a mulher cada vez mais se tornou um símbolo de perdição. Acreditou-se que a amizade de um homem com uma mulher era impossível e quando ocorria era uma maneira do homem disfarçar seu medo pelo sexo oposto.
[...] a mulher fora acusada pelo outro sexo de ter introduzido na terra o pecado, a desgraça e a morte. Pandora grega ou Eva judaica, ela cometeu a falta original ao abrir a urna que continha todos os males ou ao comer o fruto proibido. O homem procurou um responsável para o sofrimento, para o malogro, para o desaparecimento do paraíso terrestre, e encontrou a mulher. Como não temer um ser tão perigoso como quando sorri? A caverna sexual tornou-se a fossa viscosa do inferno".(p.468)
Não podemos determinar que este medo do feminino surgiu com os ascetas cristãos e suas pregações, na verdade eles contribuíram para reforçar esta imagem diabólica que a mulher ha muito tempo carrega consigo. O anti-feminismo antecede o discurso teológico. Se os padres e monges católicos tivessem se apegado mais de fato aos evangelhos com certeza teriam mudado essa terrível construção da mulher. Pois o próprio Cristo dá um sopro de caridade e igualdade dos sexos. Dois bons exemplos disso são a mulher samaritana, perdoada por Jesus, como também a pecadora pega em adultério que seria apedrejada em praça pública. Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição de Cristo e nós sabemos que nos tempos bíblicos o testemunho de uma mulher nada valia. Do mesmo modo foram mulheres que permaneceram fiéis a Jesus, mesmo esse estando crucificado. E foram elas que sustentaram seu ministério em vida com doações e esmolas. A pergunta é : por quê então a mulher não conseguiu uma nova condição perante a sociedade com o advento do cristianismo? A resposta é simples, foi graças ao seu próprio contexto histórico e as influências judaicas, greco-romanas ( Pitagorismo, estoicismo, platonismo)
O apóstolo Paulo também é visto como um grande responsável pelas permanências do machismo e sua imagem é tida como ambígua dentro do cristianismo. Pois ao mesmo tempo que pregava um universalismo , ou seja, não há judeu nem grego, nem macho ou fêmea, Paulo acabou por condicionar a mulher num estado inferior ao homem. Ela estava proibida de ministrar na igreja. Paulo escrevendo aos corintos diz que " a mulher esteja calada".
Obs: Paulo temia que as mulheres cristãs fossem confundidas com as pagãs, que geralmente ministravam nos templos das deusas mães.
A herança da mulher como agente do mal no cristianismo é algo que pode chocar , pois de um modo bem claro e direto a mulher foi demonizada pelos celibatários, que tinham a necessidade de enxergar suas próprias mazelas em outrem, neste caso na mulher. Tertuliano disse: " tu és a porta do diabo". Ambrósio : "deves permanecer virgem". Jerônimo : " o casamento é um dom do pecado". Portanto, a sexualidade é por excelência o grande pecado.
Os discursos eclesiásticos reforçaram essa idéia de malignidade na mulher. Santo Agostinho dizia que o homem era a perfeita imagem de Deus, que  seu corpo era o reflexo perfeito de sua alma. E Tomás de Aquino afirmava que a mulher fora criada mais imperfeita que o homem: " a mulher é um macho deficiente".
Vejamos mais destes discursos na idade média:
Odon, abade de Cluny no séc. x :" a mulher é um saco de excremento"
Roger de Caen no séc. XI : "Todos os maridos são infelizes"
Porém não podemos esquecer que foi também na idade média que a imagem feminina fora exaltada através do ideal feminino em Maria, mãe de Jesus Cristo. O Culto mariano e a literatura travadora promoveram a mulher medieval. Claro que isso deve ser visto a longo prazo e como a desvalorização mor da sexualidade.
"Assim, o sermão, meio eficaz de cristianização a partir do séc.XIII, difundiu sem descanso e tentou fazer penetrar nas mentalidades o medo da mulher. O que na alta idade média era discurso monástico tornou-se em seguida, pela ampliação progressiva das audiências, advertência inquieta para o uso de toda a igreja discente que foi convidada a confundir a vida de clérigos e vida de leigos, sexualidade e pecado, Eva e Satã."(p.480)
Portanto, concluímos que os sermões dos padres ascéticos e a imprensa só contribuíram para aumentar o ódio pelo sexo oposto, assim como pelos judeus e pelo eminente fim do mundo. Toda essa literatura acabou por criar ou associar a imagem da mulher com o diabo, a feitiçaria e mais tarde para a caça às bruxas. A mulher era desse modo a responsável por todo o mal no mundo, símbolo de idolatria e causa maior de apostasia.
Bibliografia:
DELUMEOU. Jean. História do medo no ocidente: 1300-1800- uma cidade sitiada.  Companhia das letras. São Paulo- 2009. p. 462-489.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Um Zelo Ardente pela Fé


Palavras chaves : Inquisição, cruzadas, infiéis, Hereges.
Objetivos:
1- Compreender o movimento cruzadista e suas motivações;
2-Analisar a cruzada Albigense como vislumbre do que seria a instituição inquisitorial;
3-Entender as ações eclesiásticas como medidas de preservação do poder papal e o uso da fé para benefícios pessoais.

O Cristianismo, segundo o autor, conseguiu sobreviver a todos os problemas que enfrentou e cresceu graças a seus "atrativos" religiosos como a penitência, a solidão, a piedade, a contemplação e rituais que atraiam as massas. Contudo, mesmo depois de consolidado precisou tomar medidas radicais e empunhar armas  em nome de Deus para que os infiéis não se sobressaíssem. Por isso mesmo em 1095 o papa Urbano II autoriza a primeira cruzada que objetivava tomar a terra santa de Jerusálem das mãos dos mulçumanos. É claro que não se tratava apenas de uma questão de fé ou espiritualidade, a igreja visava aumentar seus cofres confiscando os bens alheios e fez isso utilizando-se da fé de seus contemporâneos, que caso fossem a guerra estariam ixentos de penas por faltas cometidas anteriormente. Seus pecados também seriam perdoados e suas almas não teriam de sofrer no purgatório. Quem resistiria a tamanha proposta? E mais os cruzados tinham o direito de matar, roubar bens , mulheres e propriedades dos conquistados. Tudo isso com uma consciência tranquila, pois o Papa , "representante de Deus na terra", assim o tinha permitido.
"Assim ,vieram as cruzadas. Em 1099, a primeira estabeleceu o reino franco de Jerusalém- o primeiro caso da história do que seria visto séculos depois como imperialismo e colonialismo ocidentais. A segunda Cruzada ocorreu em 1147, a terceira em 1189, a quarta em 1202. No todo foram sete. Nos intervalos, campanhas em escala total organizadas e financiadas na Europa, períodos de luta entre cristãos e mulçumanos alternados com pausas de paz instável, durante os quais o comércio- tanto de idéias quanto de bens- prosperava." (P.21)
Vale ressaltar que nem todos que foram as cruzadas conseguiram aquilo que queriam ( geralmente mais enriquecimento). A maior parte dos cruzados, sejam nobres ou pobres, ou morreram ou faliram. Mas os inimigos da Igreja estavam por todos os lados. Além mar  no oriente médio e bem perto no sul da França. Surgira então os cartagineses ou como são mais conhecidos " Os Cátaros". Estes com certeza deram dor de cabeça às autoridades eclesiásticas. A igreja romana teve de tomar medidas drásticas para deter as novas heresias que surgiam. O que ela fez?- Uma nova cruzada! O papa Inocêncio III em 1208 autorizou a perseguição e a morte aos albigenses.
Na verdade, quem eram os cátaros? - Os cátaros eram cristãos que divergiam em suas crenças com o catolicismo. Eles acreditavam que a matéria era essencialmente má, portanto este mundo fora criado não por Deus, mas por uma entidade inferior e diferente de DEUS.Os cátaros foram influenciados por movimentos tais quais o maniqueismo                            ( dualismo entre o bem e o mal), bogomilismo, dualismo gnóstico. Super estimavam o conhecimento e acreditavam no contato direto com a divindade, sem a necessidade de medianeiros ( padres, bispos, papas). Isso ameaçava o poder eclesiástico. A influência desse movimento foi tanto que no início do sé. XIII as bases do catolicismo se moveram no sul da França. O Catarismo apareceu como uma segunda opção para seus contemporâneos que escandalizados com o testemunho dos padres        ( imoralidades, avareza, corrupção) buscavam nos cátaros uma solução e até mesmo uma "independência " dos abusos dos clérigos. Os cátaros eram vistos como pessoas de virtude e honra, como verdadeiros discípulos de Cristo e dos apóstolos.Bem diferentes dos padres e bispos católicos. Isso explicaria o tão grande crescimento desse movimento alternativo e religioso no séc. XIII :
"Dificilmente surpreende, portanto, que uma parcela substancial da região, inteiramente à parte de qualquer questão de bem estar espiritual, desse as costas a Roma e abraçasse o catarismo."[...](p.27)
Por tamanha popularidade dos cátaros e por tão grande descrédito da igreja para com a população foi que o Papa Inocêncio III convocou uma guerra, ou mais uma cruzada, uma missão em nome da cruz e da verdadeira fé cristã. Então que morram todos os hereges:
"O Papa também escreveu ao rei da França, exigindo que se fizesse uma guerra santa para exterminar os hereges cátaros, descritos como pior que o infiel mulçumano. Todos os que participassem da campanha seriam imediatamente postos sob a proteção do papado. Seriamliberados de pagamentos de todo o juro sobre suas dívidas e isentos da jurisdição dos tribunais seculares. Receberiam plena absolvição de seus pecados e vícios, contanto que servíssem um mínimo de quarenta dias."(p.28)
Como sempre muito sangue foi derramado em nome de Deus e só fora enterrompido apenas em 1225. Contudo nem todos os Hereges foram mortos, muitos se infiltraram no seio da sociedade e continuaram praticando seus cultos secretamente. Mais alguns anos  a frente e o movimento ressurgiria, fazendo surgir de fato a instituição mais sinistra que já existira na história : a inquisição.
Concluímos , portanto, que os cátaros:
"[...]devem figurar entre as vítimas mais pugentes da história e merecem ser reconhecidos como os primeiros alvos de genocídio organizado e sistematizado na evolução da civilização ocidental"(P.22)
Bibliografia:
BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard.  A inquisição.    Tradução :Marcos Santarrita; Rio de Janeiro. Imago ed 2001. 348 P.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Origens da Inquisição


Palavras chaves:  Inquisição, torturas, Igreja, Hereges

Objetivos:
1- Compreender como surgiu a Inquisição;
2- Entender os interesses da Igreja nas ações inquisitoriais;
3- Analisar a inquisição como ressurgimento de antigas práticas "pagãs";
4- Identificar as técnicas de tortura usadas pelos inquisidores como forma de intimidação social e suas consequências.

No séc. XIII a Igreja Católica era detentora de um poder admirável na Europa.  Para preservar seu poder teve de tomar medidas radicais contra supostos "hereges" que ameaçavam seu domínio quase que absoluto. Estes hereges eram os Cátaros, que viviam de forma simples e humilde e criticavam o estilo de vida pomposo  dos bispos e do papa, que em nada se assemelhavam a Cristo e suas mensagens. Os Cátaros tornaram-se tão populares que preocuparam as autoridades da igreja romana. 

É nesse contexto que surge um homem possuidor de grande retórica e fanatismo : Dominic de Gusmán, um fervoroso combatente das ideias cátaras. Para combater os Cátaros Dominic investiu em educação e estudo teológico. Sim, pois os cátaros eram conhecidos por serem homens piedosos, que dedicavam-se ao estudo e pregação da Bíblia. Andavam com roupas simples e pobres , diferentemente dos membros do clero. Foi por isso que Dominic também ensinou a piedade e a pobreza  a seus frades.

[...] " Dominic tornou-se o primeiro homem na igreja a defender a cultura como ajuda e instrumento integrais da pregação." (p.34)

Devido a sua amizade com o comandante de Cruzadas, Simon de Montfort, Dominic obtivera prestígio e muitos recursos financeiros, conseguindo não definitivamente , implantar a ordem dominicana em Toulouse. Foi apenas em 1216, após o quarto concílio de Latrão, que a ordem dos dominicanos se estabeleceu. Ela tornou-se um braço forte para a igreja e  serviu-lhe  como informante, caçadora de hereges e confiscava  bens. 

Não se pode falar de inquisição sem mencionarmos a ordem dos frades dominicanos. Em 1234, após a morte de seu mentor, o Papa Gregório IX, amigo de Dominic, o canonizara e delegara a esta ordem a missão de erradicar as heresias, concedendo-lhe autoridade sobre outros frades e estabelecendo um tribunal próprio para julgamento de denúncias de possíveis práticas heterodoxos ao catolicismo. A princípio fora feito para punir frades que simpatizavam com as ideias dos Cátaros.

Toda a autoridade dada a ordem dominicana acabou por gerar ciúmes entre outros padres e bispos, que sentiam-se ameaçados pela ascensão dos Frades inquisidores. As ações tomadas por estes eram tão ferozes que geravam reações hostis no seio da sociedade europeia. Os cônsules das cidades chegaram a expulsar os inquisidores que rapidamente obtiveram o direito de voltar para aplicarem suas duras penas aos "rebeldes". A máxima dos inquisidores era " quem assim se comporta, assim perece".
Uma forma de impor seu poder à sociedade medieval foi o terror. Através de ações punitivas e constrangedoras a igreja conseguiu domar tanto as classes mais altas como as  mais baixas do mundo europeu. Uma demonstração disso é a exumação dos ossos de mortos considerados mau exemplos.

[...]”Quaisquer que tenham sido as outras engenhocas perversamente concebidas para infligir dor, o instrumento supremo da inquisição era o fogo.[...]”(p.45)

A inquisição de modo mais crítico pode e deve ser vista como um mecanismo da igreja católica de controlar e manipular a sociedade daquela época. Também pode ser vista como  o ressurgimento ou resgate de antigas práticas pagãs mascaradas, disfarçadas com vestiduras cristãs. Frederico II, Sacro Imperador romano, é a ilustração da hipocrisia e do jogo de interesses que rodeavam o contexto medieval. Frederico II não se dava tão bem com a igreja , tanto que fora excomungado duas vezes pela mesma. Ele era adepto de práticas esotéricas e não era admirador maior dos ensinos de Jesus. Mas quando a questão era derramar sangue humano, o mesmo rei mostrava-se bastante zeloso pela igreja de Cristo, mandando matar todos os hereges. Do mesmo modo, a igreja apropriava-se das normas legais estipuladas pelo rei para punir e intimidar a todos que ousassem se opor a suas ordens.

“ Sob auspícios de homens como esses, antiga prática pagã  de sacrifício humano ritual foi ressuscitada ,disfarçada de piedade cristã. A queima de um herege tornou-se ocasião de comemoração, um acontecimento alegre.”[...](p.47)

 A inquisição apropriou-se de mecanismos de controle e opressão, tão eficientes que serviu como modelo para a polícia investigativa de dias posteriores, como por  exemplo de Stalin. Usava todo um aparato burocrático e físico, acompanhado de solenes cerimônias que sacralizavam e legitimavam suas  ações. Algumas dessas técnicas ou “práticas de misericórdias ”ficaram conhecidas como (1) disciplina, (2) Peregrinações, (3) Cruz açafrão, (4) Multas. Todas elas serviam como forma de manter a sociedade sob o domínio da igreja. 

“Para assegurar o número máximo de espectadores, as execuções , sempre que possível, realizavam-se em feriados públicos. O acusado era amarrado a um poste acima de uma pira de lenha seca, alto o bastante para ser visto por uma multidão reunida.[...]”(p.54)

Os constrangimentos e humilhações dos atos inquisitoriais poderiam durar toda a existência de um herege. O terror e o medo estava tão disseminado no seio social que todos eram “espiões”. Todos denunciavam seus vizinhos  ( muitas vezes por simples rixa). A inquisição também possuía um banco de dados que poderia ser consultado décadas após as acusações. Nele estava descrito processos, denúncias e o herege jamais deixaria de ser herege, a menos que o Inquisidor o quisesse. Aliás, este em ato simbólico lavava suas mãos e isentando-se de toda a responsabilidade da vida dos confessores, entregavam-nos na mão das autoridades  seculares, para que punissem e até mesmo matassem os mesmos.

Concluímos, portanto, que a inquisição fora um instrumento utilizado pela igreja católica com o objetivo maior de preservar sua hegemonia filosófica e política. Utilizara-se de mecanismos opressores que marcaram todo um período histórico. Serviu como modelo , no que se refere a seu aparato, para polícias secretas de tempos posteriores. E por fim deflagra muitas contradições do cristianismo europeu ocidental.

Bibliografia:

BAIGENT, Michael; LEIGH, Richard.  A inquisição.    Tradução :Marcos Santarrita; Rio de Janeiro. Imago ed 2001. 348 P.

                                            

domingo, 6 de maio de 2012

O Renascimento Cultural


Palavras chaves : idade moderna, renascimento, iluministas
Objetivos:
1- Discutir os argumentos utilizados pelos pensadores iluministas para justificar a idade moderna enquanto período ápice da razão, em detrimento do medievo, anunciado a partir da idéia de trevas ;
2- Compreender como o Renascimento Cultural propôs a Experiência como único caminho para se chegar a verdade e a razão como também  o sentido de dignidade humana enquanto experiência secular e não mais religiosa.
 No texto " Humanismo e Pintura" de José Américo Motta Pessamba debate-se as razões da simplificação dos períodos históricos Renascimento e idade média. Não é sem intenção que um iluminista do séc. XVIII denomina o período medieval como trevoso.  Ao fazer isso ele  não só está negando as crenças, costumes e hábitos  desse período, mas está acima de tudo afirmando e legitimando um novo período, o moderno.
Iluministas liberais lutavam contra os poderes clericais, sua hegemonia, sua ordem, logo, formularam um novo paradigma social, que se opunha a tudo relacionado a Igreja. Entendemos que este novo modelo explicativo era na verdade uma arma ideológica e política, por isso mesmo reduziu a idade média como um período tenebroso ou idade das trevas. Por outro lado, os românticos idealizaram o medievo e se opuseram as idéias renascentistas. O Historiador prudente enxerga as riquezas de ambos os períodos, vê o lugar comum e as suas contradições, as continuidades e descontinuidades do tempo histórico.
[...]" O que de fundamental o Renascimento acrescenta a essa tradição matematizante é a valorização da experiência, num sentido já de experimentação: experiência controlada e instrumentalizada, não corriqueira, do bom senso desarmado e freqüentemente preconceituoso"[...] (p 28)
Através do rigor metódico e científico muitas "verdades" pregadas pela Igreja foram questionadas. Por exemplo, dizer que a terra era o centro do universo (geocentrismo) já não era mais unanimidade no sec. XVI . Galileu Galilei através de suas invenções chegou a tais conclusões.  O Pensamento religioso agora divergia do pensamento secular. Tomaz de Aquino defendia que a natureza e a sociedade eram estáticos porque Deus os criara dessa forma. Entretanto os intelectuais estavam convencidos de que ambos eram dinâmicos.
Um dos nomes mais conhecidos desse período é sem sombra de dúvidas o de Da Vinci. Pintor, escritor, inventor e intelectual faminto por comprovações científicas, procurou demonstrar através de experiências a verdade real das coisas. Tais intelectuais suscitaram um sentimento de dignidade na sociedade, que outrora via-se presa aos dogmas da Igreja e agora via-se capaz de por conta própria experimentar uma outra forma de vida. O mundo deixara de ser o palco do pecado e passara a ser campo de pesquisa. O homem tornou-se a medida e o objeto de estudo. Sentia-se não mais um miserável pecador, mas um criador e descobridor de coisas. Através de seu trabalho, de sua pesquisa o homem encontrou real significado para sua trajetória num mundo que com certeza rompia com o passado e adentrava numa nova era.
Bibliografia :
NOVAES, Adauto (org.) .Arte pensamento. São Paulo: Cia das letras, 199!

A África na sala de aula



Palavras chaves : África, racismo, olhar imperial.
Objetivos:
1- Discutir a imagem criada do negro e o preconceito racial;
2- Compreender as implicações dos discursos racistas e suas conseqüências nos dias atuais;
No texto de Leila Hernandez "A África na sala de aula : visita a História contemporânea" percebemos o objetivo maior da autora: desconstruir a imagem comum  do continente africano. Para tanto, ela trabalha o olhar eurocêntrico sobre aquele e discute suas ideologias e interesses .
Muitos procuram achar uma identidade para a África, mas e para a Europa? - É como se os europeus não precisassem ser caracterizados. A África vive prisioneira de um passado fictício, presa a um presente imposto pelo exterior e refém de interesses econômicos também de fora. Por isso o africano é facilmente descrito e explicado, como se fosse uma coisa e não um ser. Devemos, portanto, despertarmos e vermos a África como um complexo continente, cheio de complexas relações sociais, econômicas, históricas. A autora pretende levantar debates e críticas sobre este tema afim de aproximar o leitor das interpretações pré-concebidas deste continente. Ela busca demonstrar a idéia de aistoricidade e visa apontar o dinamismo interno do mesmo. Vejamos a África como um calidoscópio, heterogêneo e complexo!
[...]" Pretendo evidenciar a complexidade e as múltiplas especificidades da história das várias áfricas, sem excluir os elementos que também fazem parte de uma totalidade, ainda que atuando em diferentes graus de intensidade" [...](p. 15)
Em " O Olhar Imperial" e a invenção da África, Leila Hernandez trabalhará sobre o conhecimento produzido pelos europeus colonizadores e exploradores do continente africano, demonstrando o quanto este é tendencioso e legitimador de práticas  tais como a exploração negreira (comércio escravocrata).
[...]" Os estudos sobre esse mundo não ocidental foram, antes de tudo, instrumentos de política nacional, contribuindo de modo mais ou menos direto para uma rede de interesses político-econômicos que ligavam as grandes empresas comerciais, as missões, as áreas de relações exteriores e o mundo acadêmico."(p .17-18)
Por isso ao descreverem os africanos os adjetivos sempre eram : frouxo, fleumático, indolente,incapaz, etc. A África é apresentada como um sub mundo, sem passado e sem história. Hegel contribuiu e muito para essa forma negativa de apreender a África. Logo, o negro foi vítima de um discurso carregado de interesses políticos e financeiros; Tornou-se sua cor, sua própria pele. É "inferior " por natureza ao branco. Tudo isso legitimava a escravidão.
Concluímos que ver a África de modo homogêneo é prejudicial no sentido em que os preconceitos são estabelecidos e perpetuados. Essa maneira de enxergar este continente não permite indagações, questionamentos aos estereótipos criados intencionalmente para um povo para fins de dominação. Rompamos, pois, com a velha perspectiva eurocêntrica e vejamos o negro africano como agente ativo de sua história e identidade.
[...]" O eurocentrismo tornou-se sinônimo de sectarismo"[...](p.33)
Bibliografia: HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. Prefácio e o olhar imperial e a invenção da África._____________A África na sala de aula: visita a história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 11-12 e 17-44.